01 março 2007

NAÇÃO E EXÉRCITO 2

Há quem diga que a não-violência, o pacifismo, o anti-militarismo, são posições ineficazes. Em primeiro lugar, seria necessário apontar que o critério de eficácia não é o único nem o mais alto para discernir o que deve ou não deve ser feito. Mas, além disso, a violência só é eficaz para perpetuar ou reproduzir a ordem que está baseada na coacção ou na violência e como todo o combate armado conclui na desigualdade de forças, a violência por muito revolucionária que pretenda ser, não faz mais do que perpetuar a desigualdade.

Aceitar ou recusar os meios violentos de luta contra ou a favor da ordem é uma questão de conformismo. Quanto mais conformista formos mais confiaremos na violência pois é ‘o que sempre houve’, ‘o que todos fazem’, ‘o que está na natureza humana’, etc.
Num mundo de violência e de terror, o único rebelde é quem se subleva contra a necessidade da violência e do terror.
A sociedade desmilitarizada não tem de ser, nem sequer como ideal, o lugar da harmonia sem dissonâncias, a unanimidade e o pleno acordo. Sempre existirão polémicas entre interesses opostos de todo o tipo. Se a educação de hoje tem uma tarefa, ela não será a de formar pequenos budistas mas a de preparar cidadãos capazes de se opor á inevitabilidade do militarismo fazendo face, ao mesmo tempo, á conflituosidade legal da sociedade desarmada. Sobretudo não deveremos usar essas perigosas abstracções colectivistas: povo, pátria, classe, nação… Quem critica estes fetiches é chamado individualista ainda que se limite a assinalar o inevitável convencionalismo daquilo que é apresentado como sagrado. Também é individualista quem questiona como pode um ‘bem’ ser ‘comum’ quando exige o sacrifício dos bens concretos e particulares; mas não será isto um individualismo ‘colectivo’ que não quer que ninguém decida por ele mas que se solidariza com os outros e seus interesses?

O pacifismo implica supor a inocência do outro e talvez seja por isso que muita gente se ri quando alguém diz acreditar no pacifismo. É claro que já sabemos que ninguém é tão inocente como parece e que, quem não pecou por acção, pecou por omissão. Se indagarmos bem na vida de cada um de nós, quem é que não tem no quarto das traseiras alguma discreta vilania que mereça um olho arrancado ou uma amputação de uma perna á base de dinamite? Além disso há quem pareça estar mesmo a pedi-las.

Então não é uma irresponsabilidade a da criança que, na maior, anda por aí aos pontapés em embalagens suspeitas, sem pensar que talvez alguma pessoa responsável tenha metido um quilo de nitroglicerina dentro de alguma delas, por elevadas razões que o seu delicado entendimento ainda não pode entender? E não será ainda maior irresponsabilidade a dos bancos, que não incluem entre as práticas habituais dos seus empregados cursos de evacuação rápida do edifico face a uma ameaça de bomba? Onde quero chegar? Parece que o uso de bombas e metralhadoras é bastante útil no entanto até á vitória definitiva e ao paraíso será ainda preciso colocar uns dez milhões de explosivos e metralhar alguns milhões de indesejáveis. Se os recentes erros continuarem a acontecer nunca mais acabamos.

Começando e acabando sobre o tema do patriotismo, para mim as bandeiras nem me aquecem nem me arrefecem, tanto umas como outras; já sei que por qualquer delas derramaram o seu sangue muitos jovens o que só contribui para se tornarem ainda um pouco mais antipáticas para mim. Não me parece que a realidade da concórdia civil deva ser comprometida por um símbolo tão ambíguo e emocionalmente manipulável como o da bandeira que é acima de tudo uma insígnia militar.

O objectivo deste texto é desarmar ideologicamente os patriotismos que ainda nos afligem com o fim de conseguir depois desactivar todo o resto do seu dispositivo bélico. A ideia de pátria é uma noção vergonhosamente teológica.

1 comentário:

Anónimo disse...

Este tema é bastante interessante e creio que são poucas as pessoas capazes de ter essas noçoes de aversão ás patrias, aos titulos sociais e aos patriotismos estupidos. Na minha opinião, creio sim no pacifismo, e isto porque o pacifista está sempre sozinho. Na minha vida tenho reparado que todo aquele que defende ou advoga a violencia o faz inserido num grupo, quando tem amigos, e alem disso sao bastante covardes, na medida em que so a utilizam quando sabem que podem sair vencedores. Nesse caso, o pacifista é mais coerente, não faz uso dela nem em situações que pudesse sair derreado nem quando pudesse sair vitorioso. Alem disso,não concebo porque é que temos de ser vitimas das fronteiras que outros homens criaram e amar Portugal acima de tudo. E como isto o capital ( criação humana) ,o estado, a burocracia, o trabalho opressivo que nos instigam a ter. O homem é um ser livre para a natureza, é nessa relação que deve ser pensado , não com a sociedade, estado, ou grupo. Primeiramente sou individuo, o que não significa, como é obvio o egoismo, mas sim uma etica individual que nao ousa juntar-se as ideologias dos outros, dos grupos, das patrias.