25 janeiro 2007

NAÇÃO E EXÉRCITO

Criei este blog com o intuito de discutir a irracionalidade dos comportamentos patrióticos mas entretanto não tenho escrito muito sobre o assunto, portanto aqui vai mais uma alucinação filosófica:

A nação é um revestimento mitológico. Pode haver nacionalistas solidários com os problemas dos outros povos mas o mito da nação é agressivo na sua própria essência. Se não houvesse inimigos não haveria pátrias; resta ver se haveria inimigos no caso de não haver pátrias.
Onde quero chegar com isto? O exército é de certa forma a encarnação da ideia de nação. Desde sempre que se considera que a organização de uma nação deve ter uma organização militar. Nação, pátria, povo: exército.
Nenhum governo confessa, nos dias de hoje, que mantém um exército para satisfazer as suas ânsias de conquista. O exército diz-se que é para defesa. Para justificar-se este estado de coisas invoca-se uma moral que aprova a legitima defesa. Assim, cada qual reserva para si a moralidade, atribuindo a imoralidade ao vizinho, pois é preciso imaginá-lo preparado para o ataque e para a conquista, se o estado de que se faz parte se vir perante a necessidade de pensar em meios de defesa. Além disso acusa-se o outro que, tal como o nosso estado, nega a intenção de atacar e afirma não ter o seu exército excepto por razões de defesa; é acusado, dizíamos nós, de ser um hipócrita e um criminoso astuto que gostaria de se atirar para cima de uma vítima inocente e inofensiva. É nestas condições que estão hoje todos os estados nas suas mútuas relações; afirmam as más intenções dos vizinhos e as deles próprios são unicamente boas e santas. Mas isto é uma inumanidade tão nefasta como a guerra, é uma provocação e um motivo para a guerra. É preciso renunciar á doutrina do exército como arma de defesa. E há-de chegar o dia talvez, em que um povo glorioso graças ao maior desenvolvimento da disciplina e da inteligência destruirá a sua organização militar. Tornar-se inofensivo é o grande meio para se chegar á verdadeira paz, que deve estar baseada numa disposição pacifica do espírito, ao passo que isto que se chama de paz armada responde a um sentimento de discórdia, á falta de confiança em si mesmo e no vizinho. É preciso que toda a sociedade estabelecida se guie por este lema: antes morrer do que odiar e temer, e antes morrer duas vezes do que fazer-se temer e odiar!

E do exército para o terrorismo é só um passo. Se há coisa que prospera neste mundo é a mentalidade terrorista. Podemos considerar mentalidade mais terrorista do que aquela que considera normal viver num equilíbrio de terror? Aqueles que consideram justificadas por razões ofensivas ou defensivas as armas nucleares, aqueles que não ficam escandalizados pelo facto de a maior parte da riqueza dos países ser investida nessas armas em vez de alimentos ou escolas, aqueles que justificam como um simples e razoável negocio a venda de aviões ou foguetes ao irão ou Iraque…, numa palavra, quem julga que a defesa das liberdades democráticas legitima a militarização do mundo e mesmo a sua destruição total, o que é que tem a dizer contra o terrorismo?
Quem é terrorista são ‘eles’, enquanto nós somos patriotas, gente de provada coragem disposta a dar ao mundo, quer queira quer não, aquilo de que precisa. E ‘eles’, opinam da mesma forma, porque são da mesma escola que nós. Assim todos de acordo e dois a zero para a mentalidade terrorista.
Voltando ao exército, enquanto houver um só exército imprescindível todos os outros o serão também, enquanto a morte e a coacção se tornarem inevitáveis num caso, será difícil evitar que o não sejam em todos os outros.

 

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